18 de março de 2010

Falta pouco


Depois do acidente com maridão minha vida virou de cabeça pra baixo. Tornei-me uma cigana, uma sem teto. Morando de favor na casa dos outros!

Exagero? Que nada... antes fosse.

Ao sairmos do hospital na primeira cirurgia, sim houve mais de uma, na verdade duas cirurgias para reparação dos tendões de Del, o de Aquiles e os fibulares... depois joguem no google; fomos para a casa de minha mãe. Fomos tratados à pão de ló, minha mãe, pai, e o todo o resto da família não sabiam o que faziam para agradar e atender as necessidades de Del. Voltei a ter vida doméstica de solteira, chegava em casa e tudo estava pronto: não precisava me preocupar com roupas a serem lavadas, comida a ser feita, casa para arrumar. Enfim, a vida boa que só mãe e pai sabem nos dar.

Só que essa vida boa não cabe mais em mim, por mais liberdade que se possa ter na casa dos pais, casa onde morei por toda a vida, exceto pelos quase um ano e meio que morei com minha amiga, não é mais a mesma coisa pra mim. Hoje a minha liberdade é estar com meu marido lá dentro do nosso ap quinder ovo... lá que está minha vida, minhas coisas, é lá que realizo as minhas vontades. Fico a imaginar como deve ser para as pessoas que se casam e vão morar com os pais ou os sogros. Deve ser um inferno... cadê a liberdade de andarem nus pela casa, de transarem onde quiserem, de usar o banheiro juntos, de comer na hora que quiserem. Dessas coisas, dessas intimidades também é feito um casamento. Onde fica a vontade de mandar o marido calar a bendita da boca, de sair hurrando, de rodar a baiana quando o outro te faz raiva. Dessa parte chata também é feito um casamento.

Enfim, casa de pai e mãe é boa quando vc está solteiro. Depois que se casa é bom somente para visitas ou para filar o rango de domingo.

Para completar o perrengue depois da última cirurgia do digníssimo fomos acampar na casa da sogra. A história relatada acima se repete mas de uma forma muito mais complicada para mim. Se na casa de mamãe já foi complicado, aqui nem se fala. Chego do trabalho louca para arrancar a roupa, deitar no sofá, usar o banheiro lendo minhas revistas... coisas simples como soltar um pum, isso foi banido da minha vida. Acho que na minha sogra ninguém tem cu...

Estamos dormindo no quarto do cunhado... ele mora em Sampa, menos mal, mas quando ele vêm à BH, sei que tiro a liberdade do pobre também... Um inferno para todos.

Família é para isso eu sei.... mas fácil e agradável não é, já que cada um tem seu sistema. E o sistema é bruto.

Vcs devem estar se perguntando porque cargas d’água eu e marido fomos nos enfiar na casa das sogras. O fato é que Del não é um cara que costuma seguir as prescrições médicas, que no seu caso é ficar com o pé imobilizado, sem colocá-lo no chão, sem apoiá-lo por três meses. Ele é um cara que não respeita a medicina. Então para não ter complicações o viável foi deixar mãe e sogra de olho nele enquanto trabalho. E além do mais, nossa casa é pequena demais para alguém de moletas e ficar sozinho sem poder andar ninguém merece.

Chegara o momento na saúde e na doença.

Esse período não foi fácil pra nenhum de nós dois. Del brigou comigo, ficou sem paciência, eu me irritei, ele me quis longe... Apesar de tudo estamos mais unidos, fui solidária, desejei força, tive compaixão, e nosso amor não se abalou. Descobrimos novas formas de curtir nossa vida, como estando mais presente com a família, fazer palavras cruzadas, assistir a quinta temporada de Lost até altas da madrugada, comer pipoca também de madrugada, dividir livros e depois opiniões e depois dividir chocolates...

Nesse período também descobrimos os amigos verdadeiros e ficamos surpresos com a consideração de muitos...como dos meus tios que saiu do interior do Rio de Janeiro para visitá-lo. Deus deve ter ficado com o ouvido calejado de tanto ouvir nossas preces de melhoras.

Espero que ele tenha a percepção de saber o quanto é querido, o quanto é amado por mim, por nossas famílias e pelos seus amigos.

Agora estamos na reta final, no próximo final de semana ele tira a bota ortopédica e na quarta começa a fisioterapia. Poderemos voltar para o nosso lar. Lar doce lar.Vencemos mais uma.


A vida tem dois lados. O bom e o ruim. Basta escolhermos qual queremos viver com maior intensidade.

2 comentários:

Adenilton disse...

Obrgado...
Amor sempre!

Keila disse...

amor sempre...