14 de maio de 2011

Cotidiano

Dentro do metrô lotado me sinto uma sardinha em lata. Como se não bastasse a falta de solidariedade de alguns em oferecer-se para levarem nossos livros e pastas sou obrigada a ouvir o seguinte diálogo em vozes nada sussurrantes de um certo senhor homo sapiens machus funkeirus com seus amigos da mesma espécie:


-Pô cara, ontem encontrei com uma muié que conheci na internet, passei raiva demais.

-Porque, cara?

-Fi, ela disse que era magra e era o maio tribufu, maior fumo, zim.

- Porra! E o que você fez?

- Fi, eu tinha falado pra ela na internet que eu não bebia, mas quando eu vi àquele bucho eu levei ela pro pior buteco do centro e fui logo pedindo um rabo de galo. Aí ela disse: você falou que não bebia. Aí eu falei na lata: e você disse que era magra.

- E aí, véi? Ela foi embora?

-Que nada! Antes fosse. Ela pegou o prato e foi se servir no self self e adivinha? Colocou chouriço e um monte de carne no prato, fi... Maior draga, aquela rabuda. Aí eu pensei vou beber até ela ir embora. E muié que come chouriço é ridículo, cara. Chouriço é rango de macho.

- E ela foi, maluco?

- Porra nenhuma. Lá pelas tantas ela me perguntou para onde a gente iria. Eu disse que qualquer quartim de motel dava pro gasto, que não iria gastar minha grana com ela em um motel bacana não.

- Cê teve coragem de comer ela, cara?

- Porra, pensei: já que perdi minha noite com esse fumo, pelo menos vou tirar uma.

- E então?

- Cheguei no motel, aí a muié da recepção perguntou com quem eu iria entrar. Falei pra ela que o fumo tava escalando o morro com os bofes pra fora. Isso mesmo, Zé. Deixei ela pra trás.

- Cara, você é muito louco, não vale nada.

- Quem mandou ela falar que era magra.

- E aí? Cê conseguiu comer ela, fi?

-Cara, entrei no quarto e fui tomar um banho com ela. Quando aquela baleia entrou no box ela me molhou todo sem eu ter entrado na água, cara. Puta que pariu, cê não tem noção de como ela é acabada e nojenta. Cheia de banha.

- E aí, nêgo. Já ta chegando a estação que vou descer.

- Aí, zim, montei naquele elefante sem tromba e mandei ver. Dei umas quatro. Fechei o olho, garrei na carcunda daquele elefante e mandei brasa.

Aí eu me pergunto. Quem seria o mais ogro dessa história toda? História aumentada, claro, pela espécie homo sapiens machus funkeirus contador de vantagins. A vítima obrigada a “traçar” o elefante? Ou a espécie homo sapiens femea baixus estima?

Será que algumas mulheres não se envergonham ao rebaixar-se ao ponto de ficar com uma criatura dessas em troca de umas horas de prazer? (Se é que se pode sentir prazer com alguém assim..). Será que ela realmente é digna de caridade por não se encaixar aos padrões de beleza? Ou será que ela é tão baixa e vulgar quanto àquele homem?

Fica a duvida e a indignação com as pessoas que expõe suas vidas medíocres dentro do transporte publico, sem preocupar-se com a garotinha de mais ou menos cinco anos que estava à sua frente e tão pouco em demonstrar vergonha com o senhor idoso que só balançava a cabeça em negação àquele rapaz contador de historia.

5 comentários:

Lara Mello disse...

Nossa, que parada ridícula mesmo! Choquei!!

Cris Medeiros disse...

Desculpa, Keila, tô na maior ressaca de ontem que bebi todas, e geralmente assim não acho graça em nada. Mas o diálogo dessas criaturas podres, me deu tanta vontade de rir que eu gargalhei um tempão.

Mas olha, realmente não sei quem é o pior da história, ela ou ele! Mas valeu para eu dar risadas, dos termos que o sujeito utilizou.

Beijocas

Lara Mello disse...

Tô na 4° temporada de Prison, mas assisto com Zé, ai ainda não terminei.. Mas estou ótima, espero que contigo também! Bju

M. disse...

O Rubem Fonseca iria adorar o seu conto!

Senhor Critico disse...

Como homem posso dizer. Essa cara ai não PEGOU ninguem. Quando fala dessa maneira esta claro que a garota era sim muito da "Gostosa" e não quiz nada com ele, e dai para não ficar por baixo, conta vantagens.

Nós Homens somos bons nisso, tão BONS que as mulheres que comentaram aqui, nenhuma afirmou o que afirmou: "PEGOU NADA!"

Desculpe por ter sumido de seu Blog, a falta de tempo e preocupações do dia-a-dia me deixaram sem tempo de cometar os blogs amigos...

Ei, Larguei Sociologia viu... Achei teoria demais que não muda nada, e eu, quero mudar, fazer o diferente. larguei Sociologia mas já entrei em Serviço Social, lá poderei fazer coisas mais práticas e quem sabe, mudar o mundo..rsrsrs

beijos