14 de abril de 2011

Educando um provável oprimido

Hoje estava descendo a rua próximo à escola a caminho do ponto de ônibus. Uma pequena aglomeração de alunos e duas professoras olhavam para uma casa que ficava abaixo. Movida pela curiosidade típica dos seres humanos parei e perguntei o que acontecia.


Um de nossos alunos teve a infeliz idéia de jogar uma pedra na direção dessa casa (um dia entendo essa tendência da espécie-adolescente homo-machus de jogarem pedra). A dita acertou em cheio o telhado de amianto de uma residência. O dono da casa reagiu subindo as pressas a rua, pegando o adolescente pela gola da camisa e literalmente arrastando o infeliz até a sua casa. Quando cheguei escutei os berros do tal senhor. Ele gritava e ameaçava o adolescente verbalmente. Uns 10 minutos após as ameaças e gritaria ele “liberou’ o “meliante”.

A criança -adolescente (13 anos)chegou à rua aos prantos, trêmula e com o coração acelerado. A sua expressão era de muito medo. Antes liguei para a policia relatando o acontecido e solicitando uma viatura no local, já que se tratava de uma criança na casa de um estranho sofrendo ameaças.

Quando o garoto conseguiu falar ele nos informou que o senhor tinha ficado com a sua mochila como garantia que sua mãe pagaria o telhado.

As professoras não “animaram” a tomar satisfação com o tal ameaçador e foram embora para cumprirem seus horários, então fiquei com os alunos, tentando acalmar o garoto.

Cinco ligações para o 190 e 40 minutos depois a aviatura chegou. Dois policiais novos e simpáticos ouviram a história e foram com a criança até a casa do lesado.

Conclusão: a família do garoto obviamente e corretamente terá que pagar pelo estrago. O que me assustou foram os policiais após pegarem os meus dados para registrar a ocorrência, colocar lançador de pedra e ameaçador na aviatura e partirem rumo á casa do garoto para que o senhor pudesse saber onde ele morava para a noite cobrar a bendita telha à sua mãe.

Antes de irem o senhor justificou a sua reaçã me dizendo que a pedra era pesada e caiu em cima de uma cama e ele gostaria que o adolescente soubesse que ele poderia ter causado ferimentos graves ou a morte de alguém.

Disse à ele que não estava questionando o fato da pedra ter atingido sua casa. Ele está correto em querer que a família do garoto fosse responsabilizada pelo ato. O que estava preocupada é com o fato dele ter pegado o menino a força, levado-o para dentro de sua casa, ameaçar e ainda ficar com sua mochila como garantia.

Depois, confesso, pensei que poderia sofrer represálias da família do dono da casa e até pelo próprio, já que a região é um tanto perigosa e violenta, e fiquei um pouco preocupada.

Após o susto e a indignação pensei qual é o papel da sociedade diante de atos de violência. Vivemos falando de pais que deixam a educação moral de seus filhos a cargo dos professores, que as crianças e os adolescentes já não tem mais limites e que é o fim de um futuro justo para todos. Porém me questiono se temos o direito de querer impor limites e educação aos filhos dos outros de forma violenta e ameaçadora. Será que esse menino no auge de seus questionamentos e escolhas terá uma boa lição com esse fato ou ele tomará mais raiva dos policiais e de sua condição de pobre de periferia e escolhera como sustentáculo pedras e armas?

Fica a pergunta e a minha falta de arrependimento.

2 comentários:

Senhor Critico disse...

Em Primeiro lugar tenho que te dar os parabéns, você não foi professora e sim uma EDUCADORA diferentemente das outras “Professoras” que ali estavam com você.

Ser professor não é simplesmente entrar na sala de aula, lotar a lousa de lição – ou não – e tudo acaba por ai. Sempre quando eu estudava por conta própria a pedagogia eu soube que era papel de um educador se preocupar, conhecer e atuar na comunidade em torno da escola, afinal a educação é continua, do que adianta o professor ensinar uma coisa em 5 dias (seg a sex) e a “sociedade” e os pais estragarem – ensinando o oposto – em 2 dias (final de semana)?

Já falei demais, porem, tenho que deixar registrado a profecia:
“Esse garoto certamente ficará com raiva, em uma bela noite a pedra no telhado será maior ainda, e quando ele for um pouco mais velho, será mais um dizendo: Ai Mano, mete bala nesses vermes filosdaputa, os puliça só incrimina nóiz, mete bala nesse verme”.

Beijos

Cléo Mota disse...

Ou, quem sabe - e desejo! - esse garoto se lembre desse gesto de solidariedade e de humanidade que você fez por ele e se torne uma pessoa solidária e mais humana.